Agenda Municipal / Conferências Jornadas do Ensaísmo

Jornadas do Ensaísmo
Sex 02 Jun
Museu Bernardino Machado | 10h00

Entrada Gratuita* | Programa completo em: www.bernardinomachado.org

Num tempo em que os “sistemas” e as “meta-narrativas” claudicaram, surgiram--com a sua abdicação e débacle--a assunção da dúvida metódica e recorrente; o dissenso (por vezes kamikase), a descontinuidade fragmentária, o anti-esquematismo (sedutoramente caótico), o prazer da desconstrução e uma opacidade muitas vezes deliberada e cínica, como qualidades ebúrneas da crítica; o ensaio e o erro como método de descoberta; a renúncia ao dogma e ao Absoluto; a precedência valorativa do criador sobre a criatura e a criação; a verdade como referente circunstancial e não como correspondência ontológica; o imperativo da alteridade e dos Outros como tábua de salvação e porto seguro de acolhimento dos Robinsons Crusoés e dos naufrágios sociais.

Neste mundo em ruínas (parafraseando Benjamin), o ensaio aparece, cada vez mais, intrusiva e invasivamente, como uma modalidade de pensar e de escrever. Será o ensaio o contraponto renovado, a barricada defensiva às consequências perversas (a nível moral, politico e social) da realização tecnocrática das Luzes--denunciada pela Escola de Frankfurt, desde a década de 30 do século XX--que converteu o sapere aut kantiano numa mera exortação nominal e ritual, deixando aos cidadãos apenas expectativas e, para alguns, a fruição de mercadorias supostamente valiosas e hedonistas--como automóveis, aviões, vestuário confortável, habitações luxuosas, turismo, etc.? Será o ensaio a tentativa des-esperada contra o “pronto-a-vestir” de pensar e escrever, mesmo quando se apresenta como diferente, singular, único ou apenas de alguns, mas que, na realidade, visa o maior numero possível de crentes e seguidores?! Seja o que for o ensaio, é uma evidência que não podemos descartar, porque o desafio do nosso quotidiano (tão pouco nosso, tão exógeno ao tempo do sujeito!) nos instala nele como em território de fronteira, em terra de ninguém, numa linha imaginária de cujas pregas--como brechas--guerrilhamos sem tréguas o Poder de um mundo cada vez mais unidimensional onde nos querem encarcerar, salvaguardados por inalienáveis direitos e deveres fundamentais que não vivemos na nossa carne, mas que nos asseguram que temos (por obra das leis, dos livros, dos tribunais, das instituições politicas, policiais, etc). Mas ainda que seja verdade que os tenhamos (no sentido normativo), a verdade é que se nos rendermos, deixamos de ter um pensamento sentido, uma escrita sentida; e estes são os pilares do eu--irredutível e rebelde a qualquer formula discursiva—sem o qual os outros (de que também somos parte) se convertem em”fantasmas” (no sentido cartesiano) buscando uma saída num mundo análogo ao labirinto de Dédalo.

Conferencistas:
Fernando Catroga (Universidade Coimbra) - O Tentear do ensino;
João Príncipe (Universidade Évora) - Ensaísmo e método em António Sérgio;
Sérgio Campos Matos (Universidade de Lisboa) - História e ensaísmo em Ortega y Gasset;
Augusto Fitas (Universidade de Évora) – Um ensaio sobre filosofia da ciência;
Norberto Cunha (Universidade do Minho) – Montaigne redivivus

*Este evento científico está acreditado para professores dos grupos disciplinares 200, 400, 410 e 420. As inscrições para o efeito devem ser feitas junto do Centro de Formação da Associação de Escolas de Vila Nova de Famalicão (CFAE V.N.Famalicão).

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